sábado, 25 de julho de 2009

O dia em que quase fui preso

Quando eu digo que tudo só acontece comigo, ninguém acredita. Ou acreditam, sei lá. Hoje, por exemplo, é um bom dia pra acreditar, porque agora sou procurado em 26 Estados e no Distriro Federal (coitado, por que todo mundo fala dele à parte?) por assalto a mão armada. Tá, é mentira, mas quase que fico com a ficha suja na polícia por um maldito relógio.

Hoje, como todos os dias dessa minha vida de camelo, peguei ônibus para voltar do trabalho. E todos sabem como são os ônibus às 18h em São Paulo. São lotados, com a maior diversidade de pessoas em um só lugar e, consequentemente, a maior mistura de odores do planeta. Sério, se eu pudesse definir, diria que é inaguentável (se essa palavra que não existe entrar no dicionário, claro).

Entrei no busão já sendo esmagado por aquele bando de pessoas que não conseguem esperar pelo próximo que está por vir e tentei me arrumar em um canto qualquer. Eu suporto de tudo, menos ser encoxado. Puta, se tem algo que eu fico puto é quando algum viado quer passar por trás de mim de qualquer jeito, mesmo não tendo como. Mas tudo bem, deveria ter só umas 78 pessoas de pé ali naquele momento, tava tranquilo.

Fiquei quase encostado em um cara que tava sentado e me esquivando ao máximo para não tocar nele. Ah, outra coisa que me deixa puto é quando estou sentado (ou seja… NUNCA) e alguém fica roçando suas partes baixas em qualquer parte do meu corpo. Sinceramente? Eu torço para que o pinto do cara caia naquele exato momento. Mas essa é a vida de cão de quem ainda não trabalhou o suficiente pra poder andar de carro blindado dirigido por motoristas particulares.

Bom, o cara que estava sentado, logo que cheguei, já me lançou olhares meio maliciosos. Eu entendi que era um olhar malicioso, porque várias gatas olham pra mim com aquele olhar. Tá, ninguém olha pra mim e o cara era gay. Tinha bem o estereótipo daqueles caras… gays. Roupa, cabelo, estilo… enfim, eu não tinha como sequer por o pé pro lado ou pisotearia a cabeça de uma criança. Além de todo aquele sufoco de ônibus cheio, eu tinha que aguentar mais esse puto me secando. “Tudo bem, Bruno. Você é tranquilo, tá tranquilo e isso é passageiro (sem trocadilhos, por favor)”, pensei eu.

Depois de 20 minutos naquele gingado do ônibus, percebi que ele não estava olhando pras minhas formas torneadas ou pro meu sorriso estonteante. Ele olhava somente pro meu relógio, um Bvlgari falsificado da 25 de março. Achei bem estranho, mas fazer o quê? Vai ver ele tem fixação por relógios, sei lá.

Mais uns minutos andando e um pessoal que tava na frente tava querendo descer e isso gerou um empurra-empurra. Isso é outra coisa que eu não entendo. Se alguém vai descer, por que, em um ônibus lotado, fica lá na frente até chegar o seu ponto? Por que não vai pro fundo, merda? Terceira coisa que me deixa puto em um ônibus. Finalmente, depois dessa pequena confusão, consegui voltar pra minha posição original e ficar perto do rapaz alegre.

Quando levantei a mão para segurar novamente, vi que o cara acompanhou todo meu movimento. Pior: notei que meu relógio não estava mais no meu pulso e que ele estava guardando alguma coisa na mala. Nossa, pensei “Puta merda, essa viado roubou meu relógio”. Mas aí repensei “Pô, mas que crédito se dá a um ladrão gay? Nenhum, né”. Dane-se. Aquele cara me roubou e eu ia pegar o relógio de volta a qualquer custo. Não paguei 25 reais à toa, hehehe.

Bolei um plano mental ótimo na minha cabeça pra conseguir o relógio em poucos segundos. Aquele cara ia ver o que é bom pra tosse (xarope? não! rs, piada sem graça). Fiquei ali esperando o povão descer em um ponto onde quase todos descem. Se ele descesse, daria uma de maníaco e iria atrás dele até onde ele fosse. Até na Parada Gay, eu iria, rs.. NÃO. Se ele ficasse, torceria absurdos pra pessoa do lado dele se levantar. E foi isso que aconteceu. Nem liguei que tinha uma velhinha com seus 105 anos de pé e sentei do lado do malandro. Pô, meu relógio era de marca e eu estava diante de um assaltante perigoso e diferenciado. Precisava salvar o dia.

Logo que sentei, dei uma olhada geral pelo ônibus e vi que ninguém estava olhando. Hora de agir, então. Saquei meu guarda-chuva da mala cuidadosamente. Coloquei na barriga dele, cheguei bem perto do ouvido dele e falei “Passa o relógio ou eu te mato aqui mesmo”. Ninguém desconfiou, porque do jeito que aquele cara me olhava, o pessoal jurava que um casal gay estava nascendo em um encontro no busão. Ó, que coisa maravilhosa.

Ele nem titubeou e colocou o relógio dentro da minha mala. Fechei minha mala e desci no ponto seguinte, achando que tinha feito o maior roubo de um roubo de uma coisa minha da história. Já tava até me vendo no Arquivo Confidencial do Faustão. Mas, quando abri a mala, não tinha nem um relógio Bvlgari lá. Tinha um Rolex só. Pensei “Puta que pariu. Esse cara deve roubar tantos relógios das pessoas e colocou qualquer um na minha mala.”

Quando olhei pra frente, vi o cara dando xilique e vindo em minha direção com um policial ao lado, gritando: “É ele, é ele, é ele. Pega ladrão! Pega ladrão!”. Ele tinha descido no ponto depois do meu e, por sorte (dele… e minha também), havia um carro da polícia passando pelo local.

Porra, eu não tava entendendo mais merda nenhuma naquela altura. O cara me assaltou e chamou a polícia por eu ter roubado meu próprio relógio dele? Que caraio! Juro, tava perdidaço. O policial saiu do carro, mandou que eu não me mexesse e pediu que eu o acompanhasse até a delegacia para prestar alguns esclarecimentos. Ótimo, pensei eu. Assim, poderei desmascarar o farsante, porque EU ia ser preso por assalto a mão armada e não ele.

Chegando na delegacia, quanta confusão. Dei meu depoimento dizendo que ele tinha roubado meu relógio e ele dizendo que eu havia roubado o dele. E, para os dois, foi isso que aconteceu mesmo. Foi quando os policiais nos colocaram frente a frente para debater. Perguntei porque ele olhava tanto pro relógio e ele disse que nunca tinha visto um tão solto em um pulso. Óbvio que ia deduzir que ele roubou, mas enquanto eu gesticulava para explicar que poderia ter sido outro pessoa então, senti algo descer do braço pra perto do cotovelo. Quando levantei a manga, vi meu relógio bonitinho e intacto. Puta meeeeeeeeeeeeerda… não me contive e caí na gargalhada na frente de todos. Eles, com cara de “VOCÊ VAI SER PRESO, FDP, EXPLIQUE-SE DIREITO”, ficaram me encarando.

Soluçando de tanto rir, disse que tinha sido um engano. E pra explicar isso? Falei: “Ok.. eu sei que tenho braço, pulso, perna finos HAHAHAHA e, na confusão, HAHAHAHA meu relógio deve ter subido e ficou parado até agora. HAHAHAHA Como ele não parava de olhar pro meu relógio, achei que ele tivesse roubado e por isso decidi assaltá-lo com um guarda-chuva HAHAHAHA para reaver minha perda.”

O delegado olhou, olhou, olhou… e caiu na gargalhada: “HAHAHA.. Você é muito burro. Acho que é o primeiro caso que vejo de um “ladrão” ser assaltado pela vítima. HAHAHAHA”. Olhei com cara de pouco caso, mas sorri pra não ser preso, né, hehehe.

Desfeito o mal entendido, devolvi o Rolex ORIGINAL NOVINHO do cara e fiquei com meu Bvlgari 25 de março. Acho que sou o primeiro “assaltante” liberado na história. Quer saber? Depois de hoje, nunca mais vou querer usar relógio de gente grande. Vou pedir pra minha priminha o relógio da Hello Kitty que é mais adaptável ao meu pulso mesmo e BOA!

By:Isso só acontece comigo

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