domingo, 26 de dezembro de 2010

Nunca comemore entes do tempo.

"


Sempre fui praticamente um peixe. Além de ser liso, fedorento e bocudo, eu sempre soube nadar.

Eu me destaquei já no primeiro dia de aula de natação. Minha motivação pra ficar debaixo d’água é porque eu gostava de ver as meninas vestidas de biquíni.

Essa notícia foi parar nos ouvidos da diretoria da escola onde eu estudava. Isso que eu digo é o lance de saber nadar bem.

Eles, então, acabaram me convidando para competir num campeonato amador inter escolar. É uma pena que as categorias foram baseadas na idade dos competidores, porque se fosse por tamanho eu teria uma boa vantagem contras os estudantes do prezinho. 

Eu fui escolhido para representar a categoria da quinta-série, que era a que eu estudava. Estava ótimo pra mim sendo eu um aluno de quinta. Pelo menos era o que eu queria ser: um aluno que fosse só as quintas-feiras pra escola.

Sendo eu esse representante, eu tinha muita responsabilidade nas costas. Além de espinhas. (Sim, eu sempre fui precoce. Os pelos do meu corpo começaram a crescer nesta época, só os da mão que nasceram antes)

Lá estava eu e a responsabilidade em cima do bloco de partida. Eu não parava de pensar: será que este óculos de natação que eu tô usando vai entrar água como aquele que minha mãe me deu? (Quando tinha aquela idade eu achava que óculos de natação serviam para entrar água ali dentro)

Na minha frente aquela piscina de 25 metros. Nas bordas as mães e pais dos competidores e, também, umas menininhas bonitinhas. Eu ali me achando e exibindo minha massa densa muscular típica de qualquer garoto normal de 12 anos.

Começa a competição! Eu e mais 7 pré-adolescentes caindo na água mais por susto do tiro que o juiz deu do que consciência do início da “corrida”. Foi emocionante! Acho que nunca nadei tão rápido naquele dia. Sempre fui competitivo, mas naquele dia eu saí de casa SABENDO que iria ganhar. Minhas braçadas eram muito rápidas e num ritmo pra Cielo nenhum botar defeito. 

Como estava na primeira raia do lado esquerdo, cada braçada que eu dava, tirava a cabeça para fora para respirar e aproveitava pra me deleitar com a imagem de TODOS os outros competidores, aqueles moleques infantis, ficando para trás. Meus braços até doíam de tanto esforço, pois a potência que eu colocava nos meus braços era a máxima que eu podia. Foi realmente bonito de se ver. Quem estava de fora disse que eu peguei uma vantagem de uns dois metros quando bati na borda do outro lado.

Antes de tirar a cabeça da água, eu podia ouvir as pessoas gritando e me ovacionando pela minha vitória mais do que categórica. Podia até vislumbrar um momento meio heróico saindo da água, colocando o roupão e os jornaizinhos das escolas vindo me entrevistar.

Quando saí debaixo d’água, ergui os braços em direção aos céus. Comemorei por um instante comigo mesmo!!! Só então olhei para as pessoas. Aqueles gritos a ovações na verdade não existiam, era apenas imaginação minha. As pessoas me olhavam apenas. TODAS elas. Mas o olhar era um pouco vago e misturado com uma certa incredulidade. 

Não me lembro, mas por um segundo pode ter passado pela minha cabeça que as pessoas não estavam realmente acreditando no que viam porque era exatamente isso o que estava acontecendo... Elas não acreditavam no que viam! Assim como eu não acreditei quando algo em mim me disse: “olhe para trás...”

Olhei... em câmera lenta... Percebi naquele instante que a atitude a ser tomada ao ter chegado naquela extremidade da piscina não era simplesmente ter botado a minha mão na borda e sim ter feito uma manobra de giro acelerado do nado crawl para poder voltar nadando para a extremidade de onde eu parti...

...

Exatamente, caro leitor!!! A imagem que eu vi foi da molecada voltando com a mesma gana que saíram porque a competição ainda não havia acabado. Eu realmente seria o campeão com quase dois metros de diferença... caso a distância fosse 25 metros, e não CINQUENTA!

Eu perdi porque eu simplesmente não PRESTEI ATENÇÃO à distância do inferno da mardita competição. E você acha que eu fiquei ali assistindo de camarote a chegada deles do outro lado??? Nãnanina... Peguei impulso e nadei ainda mais rápido do que na vinda.

Talvez você que está lendo não acredite, mas é a pura verdade! Sabe o que aconteceu, caro leitor? CÃIMBRA!!! Me deu câimbra antes do meio da piscina. Isso significa que eu não acabei aquela competição, sabe? Eu saí puxado por dois salva-vidas que estavam lá caso algum imbecil achasse que eram só 25 metros pra serem nadados e tivesse câimbra na volta.

Aproveitei o roupão que eles me deram para poder esconder o meu rosto. Assim nenhum dos jornaizinhos de nenhuma escola poderia fotografar o tom vermelho da vergonha estampado na minha cara. Fora aquele pouquinho de água que estava dentro dos meus óculos de natação.   
"
By:Blog Oscar Filho

Nenhum comentário:

Postar um comentário